O tenente-coronel Ricardo Alexandre Cruz Aguiar assumiu o comando do 8° BPM em janeiro. Sua história com esse batalhão, que vai completar 100 anos, é rica em detalhes. Chegou como 2° tenente e permaneceu até o posto de capitão; na maior parte do período em que esteve na unidade, dedicou-se à função de chefe P2 – que é a agência de inteligência do batalhão. Após esse período, foi demandado pela corporação a exercer funções estratégicas, tendo passado, até mesmo, pelo Estado Maior Geral da PM.
Nesta entrevista, ele passa em revista não só a tropa, mas os principais problemas de segurança pública no maior município em extensão territorial do Estado do Rio, abrangendo outros três. Para ele, o desafio de comandar o que ainda é hoje o maior batalhão da PM do RJ foi uma missão dada e, desta forma, é missão cumprida. Respeitado por todos por sua trajetória, o tenente-coronel Cruz é uma boa definição da expressão “voz de comando”.
O perfil do 8º BPM, responsável pelo município de maior área territorial, também pode ser traçado pelos outros municípios sob sua jurisdição. É o maior dos desafios?
O grande desafio não seria somente a extensão territorial da área de policiamento do 8° BPM, mas também a complexidade de toda essa região. A unidade é responsável por quatro municípios, a saber, Campos dos Goytacazes, São Fidélis, São João da Barra e São Francisco do Itabapoana, que juntos perfazem uma área de mais de 6,5 mil km²; essa é uma área ampla, de extensa malha urbana e, ainda maior, zona rural; tem em seu contexto os mais diversos tipos de policiamentos a serem empregados, desde o patrulhamento ordinário, feito por setores de radiopatrulha; passando por comunidades, as quais tem atuação de facções criminosas ligadas ao tráfico de drogas, que requerem a atuação de Grupamentos Táticos Móveis e Motopatrulhamento; temos uma praça desportiva pujante, o que demanda um policiamento diferenciado, com expertise voltada para essa demanda; presídios e casa de custódias; e uma região litorânea que atrai centenas de milhares de turistas ao longo do ano. Todo esse contexto regional diversificado, somado à maior área de policiamento de uma única unidade, dentre todos os batalhões da PMERJ; sim, isso seria o maior desafio do Comando do 8° BPM.
O 8º BPM é apontado como o de maior efetivo do Rio. Já tivemos mais de mil policiais em seus quadros e teríamos hoje pouco mais de 800. Férias, licenças e o pessoal dos setores internos é uma soma expressiva. Quantos homens temos na rua hoje?
Em se tratando de Unidades Operacionais, sim, temos o maior efetivo. Hoje contamos com 854 policiais militares ao todo, porém, esse número não satisfaz plenamente nossa demanda operacional. O batalhão, há alguns anos, possuía um efetivo de mais de 1.300 agentes, em épocas que as necessidades de policiamento eram inferiores às atuais. Desse número total que citamos, dispomos de uma média mensal de 630 policiais militares em condições de atuar no serviço de rua; porém, quando se divide esse efetivo em alas de serviço (para implementação do regime de escala) e retira os policiais militares que atuam na administração desse número, passamos a dispor de um efetivo diário de aproximadamente 185 policiais durante 24 horas de serviço, em toda a área de policiamento. O que nos dá suporte para aumentar esse efetivo diário é o Regime Adicional de Serviço, o RAS, que aumenta o efetivo diário em 70 a 79 policiais militares. Este tipo de serviço é voluntário; o policial militar, em seu horário de folga, inscreve-se em uma das 79 vagas disponíveis para o 8° BPM e recebe uma gratificação extra pelo serviço prestado.
O 8º BPM não tem o Batalhão de Operações Especiais (BOPE), mas tem uma equipe para atuar em casos extremos. O senhor pode falar sobre isso?
O BOPE atua em todo o Estado do Rio de Janeiro, inclusive em Campos, caso haja necessidade, pois ele é uma unidade que atua por demanda; em casos como sequestro com tomadores de reféns, dentre outros casos, os policiais desse batalhão serão acionados e atuarão em nossa área. Porém, em nosso escopo de trabalho temos, diariamente, a ação do Grupamento de Ações Táticas (GAT) e do Patrulhamento Tático Motorizado (PATAMO), que são equipes especializadas para situações mais complexas. Além disso, também temos outras Patrulhas que atuam em questões específicas: a Patrulha Maria da Penha, que assiste as vítimas de violência doméstica; a Patrulha Rural, que patrulha especificamente as áreas rurais; e a Patrulha Escolar, que oferece um serviço diferenciado voltado para o ambiente escolar e proteção às crianças e adolescentes.
Há uma novidade interessante que queria que o senhor detalhasse. Me refiro ao Batalhão de Cães em Macaé, que atende a PM de toda a região. Como isso funciona?
Assim como foi anteriormente falado, as Unidade Especiais da SEPM atuam em todo o território estadual, mas atuam por demandas especiais, que requerem ações específicas e pontuais. No caso do BAC – Batalhão de Ações com Cães – foi inaugurada recentemente uma companhia destacada desta unidade no município de Macaé, porém, o batalhão tem sua sede localizada no bairro de Olaria, na capital carioca. A subunidade foi criada para apoiar todo Norte e Noroeste Fluminenses, dentre outras partes do interior do Estado; uma estrutura moderna, com alto investimento em tecnologia para o tipo de atividade que ela exerce. No caso das ações com cães, diferentemente das operações especiais, o principal recurso empregado é o animal, o que dificultava as longas viagens para apoio de Unidades Operacionais interioranas. Pensando no bem-estar dos animais, visando não os sacrificar e, até mesmo, otimizar resultados, o Governo do Estado entendeu ser esta uma demanda estratégica a ser atendida.
Os crimes letais em Campos, como homicídios, em sua maioria estão relacionados mesmo ao tráfico de drogas?
Certamente. Atualmente temos um percentual acima de 90% dos casos de homicídios que possuem correlação direta com o tráfico de drogas.
A Inteligência da PM tem monitorado as ações dessas facções em Campos e na região?
Como pode ser visto nas últimas grandes apreensões e no grande quantitativo de prisões realizadas, podemos responder que sim. As agências de inteligência das forças de segurança do Estado estão atuando diuturnamente na busca por informações que venham a auxiliar os policiais militares na “ponta” a realizar as ações mais cirúrgicas possíveis no combate ao tráfico. As últimas ações do 8° BPM corroboram isso; em uma mesma semana, nesse mês de agosto, prendemos oito pessoas envolvidas nos ataques ocorridos nos meses de abril e maio, em Ururaí e Tapera, em uma única operação; e no dia anterior a esta ação, policiais militares que atuam na Baixada Campista apreenderam meia tonelada de maconha enterrada na região de Ponta Grossa, em Tócos. Tudo isso é fruto da produção de informação realizada pela atividade de inteligência. Não obstante, gostaríamos de ressaltar que o disque denúncia é ferramenta de suma importância para os trabalhos de inteligência, a instituição precisa da colaboração dos moradores, e colabora diretamente com os dados obtidos pelo serviço reservado.
O senhor tem uma passagem de destaque pela P-2, que é o Serviço de Inteligência da PM. Esse setor conta com as ferramentas necessárias para se sobrepor às ações criminosas?
A P-2 do Batalhão tem acesso e utiliza um aparato de informações sigilosas que auxiliam de forma crucial as nossas ações policiais. Além disso, temos a Seção de Planejamento e Análise Criminal, que se vale de dados e estatísticas para direcionar o policiamento. Através dessas informações, nos antecipamos a algumas práticas delituosas, vindo a apreender drogas, armas e até evitar homicídios. Em suma, as informações provindas da Inteligência, somadas ao Planejamento e Análise Criminal, são hoje os pilares que norteiam o trabalho policial.
A PM tem se destacado no trabalho colaborativo com a Polícia Civil e outros órgãos de segurança. O senhor pode falar sobre isso?
Em 2023 conseguimos elevar ainda mais a integração com diversos órgãos, estaduais e municipais, a fim de melhorar a segurança pública em nossa região. Nos reunimos com a Polícia Civil e elaboramos um ofício requerendo a transferência de lideranças criminosas, fato este que desencadeou uma grande transferência de traficantes líderes de facções, tanto de Campos quanto da capital, para presídios de outros estados. Isso freou a letalidade violenta, que após esse ato chegou a reduzir 50% na área do 8° BPM (comparando-se com os dados do período anterior à transferência). E com as prefeituras conseguimos o apoio necessário para implantar a Patrulha Rural nos quatro municípios em que o 8° BPM atua. Destaco ainda o suporte que tivemos em Campos, pela Secretaria de Ordem Pública e Secretaria de Obras, para realizar as operações de retirada de barricadas em diversas comunidades que sofrem influência de grupos criminosos.
Guarus, considerada área de maior ocorrência de crimes, está recebendo uma atenção especial para resolver essa questão?
Sim. Guarus é onde estão concentrados os maiores casos de homicídios, mas, por meio das ações citadas anteriormente, conseguimos estancar esse tipo de delito. Prova disso é que após a transferência de traficantes obtivemos uma redução de 61% dos homicídios.
O verão está se aproximando, e a chamada Operação Verão requer um esquema muito especial da PM, pois além das cidades, as praias ficam lotadas. A operação já está sendo planejada?
A área de policiamento do 8° BPM possui um mix de demandas operacionais maior do que qualquer outro BPM no Estado do RJ, pois aqui temos uma área urbana extensa, área rural também de grandes proporções e uma área litorânea de aproximadamente 107 km. Isso requer um grande esforço de Planejamento e Operacional. A sazonalidade migratória do verão é o maior teste da nossa capacidade de atender de forma eficaz essa demanda. No entanto, possuímos a expertise necessária nesse assunto e já estamos nos preparando para que o verão de 2024 tenha resultados bastante positivos, assim como foi o de 2023, no qual quebramos paradigmas e entregamos o verão de maior segurança em diversos locais da nossa área de atuação.