Maior município do estado do Rio de Janeiro, Campos ainda carece de mais áreas verdes para conservação e turismo e lazer. No trecho urbano, por exemplo, praças, bosques e parques são pouco ou nada aproveitados. Há um número limitado de opções estruturadas disponíveis e parte das que existem são criticadas por moradores devido à falta de segurança. Arquitetos e urbanistas afirmam que não há planejamento por parte do Poder Público. A Prefeitura, no entanto, diz que tem projetos para investir e melhorar esses espaços.
De acordo com o arquiteto e urbanista José Luis Puglia, a Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda no mínimo 12 metros quadrados de área verde por habitante. “Considerando só a população urbana em torno de 380 mil habitantes, temos necessidade de 4,5 milhões de m2 de áreas verdes. Hoje, há pouquíssimas áreas destinadas ao lazer. As poucas que têm vão sendo invadidas por bares com venda de bebidas alcoólicas, o que é proibido”, explica.
A gestão de áreas verdes e espaços de lazer em Campos também recebe críticas do arquiteto e urbanista Fabricio Escáfura. “Falta interesse do poder público em transformar áreas ociosas em bem-estar verde para o cidadão; para que áreas abandonadas sejam transformadas em espaço de uso comum. É preciso infraestrutura adequada, o que envolve vários fatores. Quando isso ocorre, a população vai incorporando o local ao seu dia a dia. A população campista tem essa necessidade, e, muitas vezes, procuram espaços que não foram pensados para este fim, como o campus e o estacionamentos da Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf)”, comenta.
Projetos não têm continuidade
Investir, criar e preservar áreas verdes e de lazer na área urbana de Campos não costumam figurar entre as prioridades dos gestores municipais nos últimos governos. Há projetos que até hoje não saíram do papel ou que foram esquecidos ao longo dos anos. “Temos ótimas opções como o parque previsto na Avenida Togo de Barros (Arthur Bernardes), com uma área de cinco alqueires. O IseCensa já fez um projeto gratuito para a Prefeitura e nada foi feito. O poder público deveria assumir a responsabilidade de cuidar e manter esses espaços com segurança e manutenção permanente”, diz Puglia.
Em Campos, nos anos 1990, às margens do Rio Paraíba e da BR-356, no bairro Fundão, em Guarus, foi cultivado um bosque de pau-brasil, árvore que é símbolo nacional e que deu nome ao país. Mais de 30 anos depois, o lugar se tornou um dos mais bonitos e desconhecidos da cidade. Apesar do acesso fácil ao lado da ponte General Dutra, o local é considerado inseguro, pois costuma ser ocupado por usuários de drogas e serve de esconderijo para assaltantes.
O auxiliar de produção Vinicius Santana já foi vítima. “Lamento o estado de abandono do bosque. Acho perigoso. Já fui assaltado duas vezes nas imediações. À noite, este trecho fica ainda mais preocupante para quem passa a pé ou de bicicleta. O lugar é bonito, mas acaba não tendo serventia, pois ninguém usa para lazer”, diz.
Áreas ociosas
Outro bosque, em frente ao quartel do Exército, é quase desconhecido. Além de árvores nativas, cresceram várias espécies frutíferas. É comum colher goiaba, manga, abricó e coco no local. Apesar das belezas naturais, a área não costuma ser utilizada para lazer ou descanso pela população. A insegurança afasta as pessoas.
Nas últimas décadas, muitas árvores cresceram naturalmente nas duas margens do Rio Paraíba do Sul, na área central da cidade. Ventos e pássaros se encarregaram de espalhar sementes tornando o trecho urbano mais arborizado. Há flamboyants, sibipirunas, ipês, quaresmeiras e outras espécies que melhoram o ar e a qualidade de vida. Apesar da beleza, a região não é usada pela comunidade.
Quem chega a Campos pela BR-101 se depara com uma enorme praça arborizada no cruzamento das avenidas Nilo Peçanha, Arthur Bernardes e do Contorno. O local é conhecido como Trevo do Índio, pois houve ali, em 2006, um monumento ao povo goitacá. Apesar da imensa área verde, o local precisaria passar por adaptações para ter condições de uso, devido à falta de acesso para pedestres e ao trânsito pesado no entorno.
Diante dessas áreas ociosas, Puglia reforça a necessidade de locais arborizados que possam ser aproveitados pela população. “O campista carece demais de espaços verdes”, diz o arquiteto e urbanista.
Prefeitura planeja ampliação
A Prefeitura de Campos emitiu uma nota para falar das questões abordadas pela reportagem, na qual a subsecretaria municipal de Meio Ambiente informou que “tem planos para revitalização e ampliação das áreas verdes no município. Entre eles, existe um projeto de plantio de espécies nativas no trecho da lagoa Taquaruçu, em Guarus. A Secretaria de Planejamento, Mobilidade e Meio Ambiente acrescenta que está sendo orçado o Parque Urbano, projetado em uma parceria público-privada com o Isecensa, responsável pela arquitetura e planejamento do espaço de 330 mil m², sendo 100 mil com exemplares de mata atlântica, na Avenida Arthur Bernardes. A pasta ressalta ainda que está mapeando outras áreas para desenvolver outras ações”, conclui.